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Lourenço Marques em uma dimensão paralela

Para quem não sabe: Lourenço Marques é o antigo nome colonial de Maputo, capital de Moçambique, durante o período em que este país esteve sob o jugo português. De Moçambique, vieram muitos dos ancestrais, vergonhosamente escravizados, de milhares de brasileiros. E foi naquele cenário alternativo que se desenrolou o que entendo ter sido uma visita minha a uma dimensão paralela.

Não. Não me parece que passei por uma simples projeção astral a um cenário fictício, em uma dimensão adjunta a esta, física, no espaço-tempo. Minha intuição me faz supor, com certa convicção, que estive em um cenário real em um ponto no espaço-tempo distinto deste a partir do qual escrevo esta postagem, mas, ainda assim, real. Não vi cenas; eu as vivi. Não apenas percebi o cheiro, o horror, mas também senti medo.

Cenas de terror

Vozes em português arcaico anunciavam que Lourenço Marques não poderia mais resistir. Pelas ruas, padres eram perseguidos de um lado, enquanto nativos eram esquartejados de outro. Vielas de chão batidos, batentes apodrecidos de portas. Uma igreja de fachada amarelada, estilo barroco, uma torre baixa. A cidade sitiada, pelo que me parece, há bastante tempo (não sei por força de qual país).

O cadáver de uma mulher de origem europeia jazia no canto pouco iluminado de uma sala da casa onde eu me escondia. Um homem, também europeu, ensinava a outro, africano, como deveriam começar a depelar o corpo no caso de precisarem desmembrá-lo, cozinhá-lo e comê-lo. Com uma das mãos, um dos homens levantava os cabelos da mulher, na altura da testa, e apontava a faca para o local em que deveriam começar a arrancá-los pelas raízes. Procurei um local (provavelmente, um buraco) mais isolado onde pudesse sobreviver à tomada iminente da cidade, sem uma alternativa melhor à mão.

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Do local escuro em que me encontrava, ouvia uma mulher a reclamar com sotaque português típico: “A gaja estrebuchou-se. Comam a rapariga antes que cheguem os padres com o espeto em mãos! Nunca vi machos como tais a falar tantas asneiras.” Ao ouvir esta última palavra (asneiras), alguém deu dois toques com as costas dos dedos na janela do buraco onde eu jazia encolhido. Evitava mesmo respirar para não dar conta de minha presença, disfarçada pelo cheiro de pólvora e lenha queimada que vinha do exterior. Aos segundos toques na janela, temi de verdade por minha vida, já que não sabia se era alguém da minha confiança ou algum esfomeado a querer canibalizar alguma janta ainda viva.

Dimensão paralela

Ao acordar (nesta dimensão), eu apresentava sinais de hipoglicemia, embora não tivesse tomado insulina além do usual (sou diabético), nem tampouco pulado alguma refeição. Após comer o suficiente e refletir sobre a experiência, não tenho como dizer que foi simples projeção astral a um plano anexo a este ponto do tempo, mas a uma dimensão paralela, em outro ponto do tempo.

Isso me leva a suspeitar, inclusive, de que, após o desencarne, podemos pular a outro ponto do espaço-tempo sem nem mesmo passarmos pelo que chamamos de umbral. Talvez, por isso, passamos por algum local, alguma vez na vida, no qual temos certeza convicta de já termos estado antes. E estas transposições de dimensões podem acontecer não apenas após o desencarne, ou durante o sono do corpo físico, mas também durante a vigília, quando estamos bem acordados.

Na verdade, você pode já ter lido esta postagem antes, no “futuro”, e nem ter se dado conta ainda. Aliás, já se perguntou hoje se você nasceu, realmente, aqui? Ou será que você foi empurrado para dentro de seu corpo, em determinado momento?


Imagem em destaque | Créditos:

  • Mural, medindo 95 m de extensão, localizado próximo ao aeroporto de Maputo, que retrata a guerra civil de Moçambique. Autor(a): Ariadne Van Zandbergen, 2005. Encontrada em: < https://tinyurl.com/yeykruv2 >.

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Por Júlio [Ebrael]

Blogger, amateur writter, father of one. Originally Catholic, always Gnostic. Upwards to the Light, yet unclean.

// Port.: Blogueiro, poeta amador, pai. Católico, casado. A caminho da Luz, mas sujo de lama.

Uma resposta em “Lourenço Marques em uma dimensão paralela”

Intrigante esse seu relato ,os detalhes são bem curiosos.
Já tive sonhos semelhantes mais em episódios e certo detalhes não consegui lembrar com tamanha precisão. 🌟❤💗😘

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